Apareceu no New York Times e no Estado em 15/03/2007
postado em 15 mar 2007

ATÉ OS PIOLHOS UNEM OS CHIMPANZÉS AOS HUMANOS

O piolho que habita no coro cabeludo humano, o Pediculus humanus, é uma espécie-irmã do piolho do chimpanzé, e o piolho púbico humano está estreitamente ligado ao piolho do gorila.

Alguns Santuários, como os nossos, recebeu bebês chimpanzés de circos e particulares, no passado cheios de piolhos na testa, possivelmente de origem no convívio com humanos.

(Reprodução da matéria publicada no Jornal Estado de 15.03.2007)

Piolhos ajudam a explicar a evolução do homem
Nicholas Wade, NOVA YORK, THE NEW YORK TIMES

Um dos mistérios da evolução humana é o fato de os humanos poderem hospedar três variedades de piolho, enquanto muitas espécies abrigam só uma. Os especialistas finalmente parecem ter solucionado essa questão e esclarecido dois pontos da história: quando as pessoas perderam o pêlo do corpo e quando a primeira roupa foi feita.

Existem três tipos de piolho que elegeram o Homo sapiens como lar, mas cada um ocupa um nicho diferente do corpo. O Pediculus humanus vive entre os finos fios de cabelo do couro cabeludo. Seu primo, o piolho corporal, não se instala na pele, mas nas roupas. O território exclusivo do piolho púbico, o Phtirus pubis, são os pêlos mais grossos da zona genital.

Os piolhos se adaptaram de tal modo a seus hóspedes que não sobrevivem longe do sangue e do calor do corpo.

Os biólogos há muito tempo queriam resolver um quebra-cabeça, ou seja, o fato de o piolho que se instala na cabeça humana ser uma espécie-irmã do piolho do chimpanzé, e o piolho púbico estar estreitamente ligado ao piolho do gorila.

Uma equipe conduzida por David Reed, da Universidade da Flórida, reconstruiu o modo como essa situação deve ter ocorrido. O grupo comparou amostras de piolhos púbicos humanos com de gorilas selvagens.

As diferenças de DNA indicaram que eles se separaram há 3,3 milhões de anos, relataram Reed e os colegas na última edição da revista Biomed Central Biology. Entre os seres humanos, o piolho púbico geralmente se expande pelo contato sexual, porém o piolho do gorila pode ter sido contraído de outra forma. “Nunca saberemos se foi por contato sexual ou algo mais tranqüilo”, disse Reed.

Ele acredita que os ancestrais humanos perderam o pêlo do corpo há 3,3 milhões de anos, e o piolho humano ficou confinado à cabeça, deixando a virilha para o piolho do gorila.

Os arqueólogos contestam a afirmação de que os ancestrais humanos perderam seu pêlo de primata quando trocaram as sombras da floresta pelas savanas quentes e abertas e precisavam de uma pele nua para poderem transpirar. Essa adaptação às savanas já estava ocorrendo há 1,7 milhão de anos. Mas a perda do pêlo do corpo pode ter começado mais cedo. Os resultados obtidos por Reed sustentam essa teoria.

HISTÓRIA DAS VESTIMENTAS

Se o pêlo do corpo humano não existia há 3,3 milhões de anos, quando então as pessoas começaram a usar roupas? Surpreendentemente, mais uma vez os piolhos fornecem a resposta.

Embora humanos possam ter começado a usar vestimentas folgadas, como capas de peles de animais, há muito tempo, a primeira roupa feita sob medida teria sido o caminho usado para o piolho da cabeça expandir seu território. Assim, ele se desenvolveu numa nova variedade, com garras adaptadas para aderir à pele.

O geneticista Mark Stoneking, do Instituto Max Planck, na Alemanha, confrontou em 2003 diferenças de DNA das espécies e viu que o piolho corporal se desenvolveu há cerca de 107 mil anos a partir do da cabeça. As roupas teriam aparecido pouco antes desse período.

Segundo Stoneking, a reconstrução feita por Reed foi “bastante razoável”. “A transferência não precisa ser sexual”, ele disse, “mas provavelmente exige que as pessoas estejam muito próximas”.

Fonte: http://www.estado.com.br/editorias/2007/03/15/ger-1.93.7.20070315.5.1.xml