CHEGARAM PETER, JUDY E TATÁ

No dia 27 de dezembro a meia noite, estávamos no Aeroporto André Franco Montoro, em Guarulhos – SP, o Dr. Miguel Angel Vaudano e eu, aguardando o vôo 9071 da VARIGLOG, que vinha com uma carga preciosa de Fortaleza. Às 2:00h do dia seguinte (28 de dezembro), a Dra. Cléa Lúcia Magalhães nos ligou pelo celular e avisou que já estava no saguão do aeroporto, junto com o tratador Diomar. Os apanhamos e os trouxemos ao terminal de carga da VARIGLOG, ao voltarmos a primeira gaiola já estava perto do caminhão da Transportadora WINDEXPRESS. As outras duas gaiolas chegaram minutos depois e em instantes já estavam acondicionadas dentro do caminhão e prontas para o seu destino final, o Santuário de Grandes Primatas de Curitiba, de Ana e Milan Starostik.

Esta operação complicada, produto de uma decisão judicial, tinha sido iniciada dias antes, quando com a crise aérea em andamento, a Dra. Cléa Lúcia Magalhães, ficou no aeroporto de Brasília no dia 24 tentando embarcar para Fortaleza, o que só conseguiu fazer no dia 25 no fim da tarde. A Dra. Cléa Lúcia deveria acompanhar a operação e viajar no avião e no veículo terrestre até Curitiba com aquele grupo de chimpanzés, que têm uma longa história para contar.

A seguir um relato emocionado da Dra. Cléa Lúcia sobre o que aconteceu após a chegada ao Santuário:

“—– Original Message —–
From: Cléa Lúcia Magalhães
To: Projeto GAP
Sent: Sunday, December 31, 2006 6:22 PM
Subject: Fortaleza

Feliz Ano Novo!

É tão bom começar um novo ano dando alegria e uma nova vida a três seres especiais como Peter, Judy e Tatá. Os três são muito queridos. Tatá tem um olhar triste e Judy um olhar de quem já aceitou o que a vida lhe deu. Peter, ao contrário, é cheio de vida e entusiasmo. Parecia que já nos conhecia, pois não nos estranhou e já nos primeiros contatos nos deu as costas e nos deixou tocá-lo, como que dizendo Obrigado, por lhe trazer para um local de segurança, de proteção , bonito e repleto de muito carinho e amor. A mesma coisa aconteceu com Judy e Tatá. Tatá parece viver em um outro mundo. Com seu olhar distante e triste. Judy procurou carinho e veio até nós como que agradecendo também por sua nova vida. Tatá está grávida de 05 meses e nem aparenta, pois é bem delgada. Judy está com problemas nos dentes e tem a face esquerda do rosto inchada. Peter é lindo, forte, brincalhão e charmoso!
Agradeço a vocês por terem nos dado a oportunidade de poder ajudar a eles. Foi emocionante o encontro dos três, na parte interna do recinto, após serem liberados da caixa. Foram muitos abraços e gritos de alegria. Apenas Peter, o primeiro a entrar no recinto, teve medo e procurou a ajuda do tratador Diomar. As outras, já encontraram Peter no recinto e foi só abraços.
Peter não sabia o que fazia para se exibir e mostrar que ele é um macho verdadeiro e estava feliz.
Judy e Tatá comiam e escondiam comida para depois. Mas, já no outro dia deixaram sobrar as frutas. Viram que alí tinha segurança e nada lhes faltaria. Tatá terá a opotunidade de ter seu bebê sem riscos de perdê-lo. Poderá conviver com ele em todas as suas fases. Tomara, que com isso, volte o brilho no seu olhar tristonho.
Dra. Cléa Lúcia Magalhães”

A história real de Peter, Judy e Tatá, se iniciou há mais de cinco anos, quando o Zoológico Bwana Park, do Rio de Janeiro, foi fechado pelo IBAMA, em meio a um escândalo de animais mortos e maus tratos. Aquele grupo então de quatro chimpanzés, que incluía a filha Vitória, era para ser destinado ao Santuário de Sorocaba, porém uma decisão incompreensível do IBAMA destinou aquele grupo ao Zoológico particular Paraíso Perdido, perto de Fortaleza – CE. Naquela época, eles tinham um chimpanzé macho, Pongo, cedido pelo Zoológico de Belo Horizonte, que para dar lugar ao grupo do Rio de Janeiro, foi engaiolado, até que o Zoológico de Belo Horizonte corretamente nos procurou e nos enviou o Pongo.

O Zoológico Paraíso Perdido foi fechado pelo IBAMA meses atrás, e os animais deveriam ser transferidos para um outro parque. Entre medidas judiciais impetradas pelos donos do Zoológico, em sua disputa com o IBAMA, uma decisão do Tribunal Regional Federal de Recife, sentenciou o envio do grupo de chimpanzés para o Santuário de Curitiba, onde o IBAMA já tinha autorizado o envio da filha Vitória meses antes. Além de Vitória, ambas mães tiveram nos últimos anos outras duas filhas, Debbie e Meg, que se encontram no Santuário de Ubatuba.

Nós que acompanhamos o drama deste grupo de chimpanzés desde que os conhecemos no Rio de Janeiro, só podemos dizer que este presente de fim de ano, é o melhor de todos os acontecidos em 2006, já que todos os envolvidos no PROJETO GAP, após anos de esforço, temos conseguido salvar da exploração, uma família de sete chimpanzés, que hoje vivem como todos deveriam viver, em um ambiente de respeito, amor e paz , já que estes seres tanto têm sofrido em mãos de humanos.

Dr. Pedro A. Ynterian