Amando chimpanzés até morrer / LOVING CHIMPS TO DEATH
postado em 26 fev 2009

Amando chimpanzés até morrer


Uma tragédia em Connecticut nos lembra os erros que podemos cometer quando tentamos transformar animais selvagens em pets ou objetos de entretenimento


Por Jane Goodall
25/02/2009


Semana passada em Stamford, Connecticut, um chimpanzé chamado Travis foi baleado e morto depois de espancar uma amiga de sua dona. O chimpanzé vivia com uma viúva, comendo lagosta e tomando sorvete na mesa, usando roupas humanas e se entretendo com um computador e televisão.


Mas como a tragédia provou, um chimpanzé nunca pode ser totalmente domesticado.


O cérebro humano é mais desenvolvido do que qualquer outro de qualquer ser vivo. Por que não conseguimos aprender que animais selvagens simplesmente não são bons pets?


Acredito que isso se deva bastante ao fato de chimpanzés serem usados freqüentemente em entretenimento e propaganda. Apenas um mês atrás, os americanos que assistiam ao Super Bowl devem ter rido de um anúncio em que chimpanzés vestidos de mecânicos trabalhavam num carro. Eles pareciam graciosos, engraçados e até amáveis. Será que algum telespectador pensou que eles poderiam ser bons animais de companhia?


Isso não poderia nunca ser uma verdade. Somente chimpanzés muito jovens são usados na indústria do entretenimento e propaganda, porque quando eles atingem a maturidade, por volta dos 6 a 8 anos de idade, eles se tornam muito fortes e incontroláveis. Os chimpanzés se desenvolveram nas florestas tropicas da África, e é lá onde se adaptam a viver, fazendo partes de grupos com seus iguais. Uma casa em Connecticut era um ambiente completamente estranho para um chimpanzé.


Ainda assim, como um “chimpanzé domesticado”, Travis nunca poderia retornar para a vida livre na natureza. Ele não tinha vivenciado ou aprendido as habilidades básicas para sobreviver na floresta. A indústria do entretenimento ou criadores raramente, para não dizer nunca, oferecem cuidados num longo prazo para os chimpanzés. Os zoológicos não os aceitam porque eles não aprenderem a interagir com outros. Assim, a maior parte destas pobres criaturas passam o resto de suas vidas – às vezes 50 anos ou mais – em minúsculas jaulas em circos, atrações de rua e até em casa de pessoas que não têm os recursos necessários para lhes oferecer.


Enquanto isso, mais jovens chimpanzés são criados para manter o abastecimento da indústria do entretenimento.


O uso de chimpanzés em entretenimento e propaganda não apenas condena os chimpanzés a terem uma vida não adequada a eles, mas também torna mais difícil que as pessoas acreditem que estes primatas estão realmente ameaçados de extinção no seu habitat. E eles realmente estão.


Os chimpanzés estão perdendo seu habitat, em parte por conta do comércio de madeira e em parte por conta da invasão das crescentes concentrações populacionais que vivem na pobreza e derrubam a floresta para plantação e pecuária. Este desmatamento também contribui significativamente para as mudanças climáticas. E algumas vezes os chimpanzés são vítimas no meio de conflitos étnicos ou são mortos por sua carne, uma prática que pode ter dado origem à transmissão do vírus HIV aos homens.


A tragédia de Connecticut deve nos fazer lembrar que além dos chimpanzés não serem bons pets, seu destino está intimamente ligado ao nosso.


Fonte: Jornal LOS ANGELES TIMES
http://www.latimes.com/news/opinion/commentary/la-oe-goodall25-2009feb25,0,3873665.story


LOVING CHIMPS TO DEATH

A tragedy in Connecticut is a reminder of the mistakes we make when we try to turn the wild animals into pets and entertainers.

By Jane Goodall
February 25, 2009


Last week in Stamford, Conn., a chimpanzee named Travis was shot and killed after he mauled a friend of his owner. The chimpanzee lived with a widow, eating lobster and ice cream at the table, wearing human clothes and entertaining himself with a computer and television.


But as the tragedy made clear, a chimpanzee can never be totally domesticated.


The human brain is more highly developed than that of any other living creature. So why can’t we learn that wild animals simply do not make good “pets”?


I believe it has a great deal to do with the fact that chimpanzees are so frequently used in entertainment and advertising. Only a month ago, Americans watching the Super Bowl may have laughed at an ad in which chimpanzees dressed as mechanics worked on a car. They seemed cute, funny and even lovable. Is it any wonder viewers might think that chimpanzees would make great pets?


Nothing could be further from the truth. Only infant chimpanzees are used in entertainment and advertising, because as they approach maturity, at about 6 to 8 years of age, they become strong and unmanageable. Chimpanzees evolved in the tropical forests of Africa, and that’s where they’re suited to live, roaming in groups of their own kind. A house in Connecticut was a completely alien environment for a chimp.


Yet as a “domesticated” chimpanzee, Travis could never have returned to the wild. He had never learned the array of skills necessary to survive there. The entertainment industry and pet owners rarely, if ever, provide for the long-term care of chimpanzees. Zoos don’t want them because they have not learned to interact with others of their kind. So most of these poor creatures spend the rest of their lives — as much as 50 years or more — in small cages in circuses, roadside attractions and, yes, even in the homes of individuals who lack the means to provide for them.


Meanwhile, more infant chimpanzees are bred to maintain the supply for the entertainment industry.


The use of chimpanzees in entertainment and advertising not only condemns chimpanzees to lives they were not meant to live, it makes it hard for people to believe that these apes are actually endangered in the wild. But they are.


Chimpanzees are losing habitat, in part because of commercial logging and in part because of encroachment by ever-growing human populations who live in poverty and cut down the forest to grow crops and graze cattle. This deforestation also contributes significantly to climate change. And sometimes chimpanzees are caught up in ethnic conflicts or killed for their meat, a practice that is believed to have led to the human strains of HIV.


The Connecticut tragedy should remind us not just that chimpanzees do not make good pets but that their fate is intimately tied to ours.

Source: LOS ANGELES TIMES
http://www.latimes.com/news/opinion/commentary/la-oe-goodall25-2009feb25,0,3873665.story