Alerta! Chimpanzés selvagens morrem de resfriado comum humano
postado em 14 fev 2019

Por Jaqueline B. Ramos*

Ao longo do nosso relacionamento de longo prazo com animais não humanos, os homens se auto intitularam o mais importante entre todos os seres vivos. Deste ponto de vista, as doenças zoonóticas sempre foram uma preocupação. Pouco esforço analítico foi feito no sentido contrário – e quando os animais são infectados por doenças humanas?

Os impactos da interação dos homens com os outros animais são muito complexos e precisam de muita pesquisa e teorias para serem claramente explicados – e esperamos que resultem em ações para um modelo mais sustentável. Mas algumas descobertas científicas já apontam a necessidade de rever o modo como nos relacionamos com os animais.

Uma descoberta recente de pesquisadores da Universidade de Wisconsin-Madison (EUA) descobriu que dois vírus respiratórios humanos comuns infectaram chimpanzés em Uganda, um deles tendo consequências letais. Primeiramente, em dezembro de 2017, a suspeita era de que dois surtos em diferentes comunidades de chimpanzés na mesma floresta e no mesmo período, entre dezembro de 2016 e fevereiro de 2017, tivessem a mesma causa.

Mas depois de mais análises de material genético viral, a equipe liderada por Tony Goldberg, epidemiologista e professor da UW-Madison, ficou surpresa ao perceber que as infecções dos chimpanzés decorreram de dois tipos de vírus respiratórios de origem humana: o Metapneumovírus e o vírus Parainfluenza 3. 

O primeiro causou a morte na comunidade Ngogo, no Parque Nacional Kibale, (205 indivíduos, com quase 44% de doenças respiratórias e 25 mortes) e o segundo foi identificado em indivíduos da comunidade de Kanyawara (55 indivíduos, com pouco mais de 69% afetados, sem casos mortais).

“Isso foi realmente chocante”, diz Goldberg no comunicado de imprensa publicado pela Universidade. “Na época, estávamos convencidos de que o mesmo vírus estava causando ambos os surtos, especialmente considerando que os surtos estavam acontecendo exatamente ao mesmo tempo”.

A transmissão homem-chimpanzé

Goldberg conduz projetos para estudar como pessoas e animais ao redor do mundo estão interagindo à medida que os ambientes mudam em torno deles. Neste caso específico, ele afirma que, embora as pessoas sejam as fontes desses vírus, não está claro como eles estão chegando até os chimpanzés.

“Isso pode acontecer de várias maneiras”, diz Goldberg. “Moradores locais, pesquisadores, turistas e muitas outras pessoas visitam florestas onde vivem os símios. Só é preciso uma pessoa involuntariamente carregando um vírus de “resfriado comum” para desencadear um surto mortal nos primatas.”

Embora não seja 100% cientificamente conclusivo, não há dúvida de que o desmatamento, a destruição do habitat e as atividades turísticas descontroladas podem ser considerados, à primeira vista, os principais vilões. Mais homens entrando e destruindo florestas e, consequentemente, chimpanzés invadindo áreas humanas. Um cenário perigoso para todos.

Daí vem então a importância de aprender sobre esses surtos. Segundo Goldberg, quanto mais se sabe, mais bem preparados estaremos para preveni-los e proteger a saúde dos chimpanzés e outros animais.

“Estes são vírus humanos muito comuns que circulam em todo o mundo e causam ‘as fungadas’ em crianças”, afirma ele. “Nas pessoas não causam muitos problemas, a menos que o paciente tenha asma ou outra condição subjacente”.

Nos chimpanzés, no entanto, os vírus são mais violentos, pois eles não têm imunidade desenvolvida. “Os chimpanzés tossem, espirram e deitam no chão da floresta, parecendo destruídos. E eles perdem muito peso. É uma coisa horrível de se ver. É de partir o coração ver esses animais sofrerem, não apenas da doença, mas também da tristeza pela perda de membros de sua sociedade ”, conta Goldberg.

Artigos relacionados e fontes:

https://www.bbc.co.uk/programmes/p05r5xyt

https://ghi.wisc.edu/chimpanzee-deaths-in-uganda-pinned-on-human-cold-virus/

https://news.wisc.edu/human-respiratory-viruses-continue-to-spread-in-wild-chimpanzees/

*Jornalista – Ambiente-se Comunicação e Gerente de Comunicação Projeto GAP Internacional