Por Ana Nuno, Chloe Chesney, Maia Wellbelove, Elena Bersacola, Gladys Kalema-Zikusoka, Fabian Leendertz, Amander Webber e Kimberley Hockings.
Grandes primatas não humanos (bonobos, chimpanzés, gorilas orientais, gorilas ocidentais e orangotangos) são particularmente vulneráveis a doenças infecciosas de humanos devido à nossa estreita relação genética. Essa vulnerabilidade é maior em atividades de contato próximo, como turismo e pesquisa. Embora essas atividades possam auxiliar os esforços de conservação, os riscos à saúde estão bem documentados. Com a pandemia de COVID-19 revivendo as preocupações com a transmissão de doenças, nasceu a iniciativa “Protect Great Apes from Disease” (veja http://www.protectgreatapesfromdisease.com, site que disponibiliza informações e material educativo gratuito em várias línguas, inclusive português). Abaixo segue um dos vídeos disponibilizados.
Em um estágio inicial da pandemia, nossa equipe teve como objetivo desenvolver materiais de educação para visitantes e treinamento de guias para uso em locais africanos de turismo de grandes primatas. Para fazer isso, primeiro exploramos quais fatores parecem explicar melhor a adesão dos visitantes às medidas de mitigação de doenças. Por exemplo, queríamos caracterizar as práticas durante as visitas anteriores (por exemplo, se as pessoas acham que os visitantes geralmente cumprem as recomendações), avaliar a disposição dos visitantes em cumprir as medidas de mitigação de doenças (por exemplo, eles usariam uma máscara facial durante o trekking para proteger os grandes primatas?) e explorar quais fatores devem ser promovidos para aumentar sua disposição em seguir as recomendações (por exemplo, aqueles mais compatíveis eram mais propensos a estar cientes dos possíveis impactos?). Para responder a essas perguntas, 989 visitantes passados e potenciais futuros responderam ao nosso questionário online adaptando o Health Belief Model, uma das estruturas de saúde pública mais usadas para entender como que os indivíduos podem ou não agir diante de uma ameaça à saúde.
Através desta maior compreensão dos visitantes dos locais de turismo de grandes primatas africanos, fomos capazes de identificar formas de melhorar as medidas para reduzir a transmissão de doenças. Isso é importante não apenas para o COVID-19, mas também para outras doenças infecciosas, principalmente nos estágios iniciais de futuras pandemias, quando as informações geralmente são limitadas, mas são necessárias ações preventivas. Diante das crescentes ameaças de futuras pandemias, devemos minimizar a transmissão de doenças, garantindo que o turismo e a pesquisa promovam apoio de longo prazo para a conservação de grandes primatas e seus habitats, além de maximizar os benefícios para as comunidades locais.
Pesquisa completa com download gratuito: https://besjournals.onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1002/pan3.10396