Na quinta-feira passada, 23 de junho, um grave incidente aconteceu no Santuário chamado Éden, perto da cidade de Nelspruit, a 300 km de Johannesburgo, na África do Sul. O Santuário funciona como uma franquia do Instituto Jane Goodall.
Um homem foi puxado por baixo de uma cerca elétrica por um grupo de chimpanzés enquanto mostrava o Santuário para um grupo de turistas. O homem foi arrastado – segundo o relato de jornal sul-africano Bield – durante 1 km, mordido repetidamente e espancado. Perdeu uma orelha e vários dedos e se encontrava em estado crítico numa clínica de Nelspruit.
O Santuário chamado de Éden foi inaugurado em 2006, como uma franquia do Instituto Jane Goodall, mas é administrado independentemente. Suas instalações são precárias e a forma de administrá-lo também. Vários filmes das atividades do mesmo têm sido veiculados em canais da TV paga, especialmente no Animal Planet. A forma deles aproximarem novos chimpanzés dos que já estão morando lá, por falta de instalações suficientes, colocam em risco a vida dos primatas.
O Instituto Jane Goodall não deveria ter permitido que as práticas de manejo que eles utilizam continuassem e deveria ter exigido que as instalações fossem reforçadas, assim como ampliadas, para poder receber com segurança novos chimpanzés.
Gostaríamos de lembrar que os primeiros chimpanzés que foram para aquele suposto Santuário vieram de Angola em 2005. Na época, uma Delegação do IDF – Instituto de Desenvolvimento Florestal (equivalente ao Ibama brasileiro) esteve no Brasil, a nosso convite, a fim de estabelecer um acordo de colaboração para construção de um Santuário de Primatas naquele país irmão. Inicialmente uns sete chimpanzés que estavam em casas de família, em Luanda, confiscados pelas autoridades angolanas, viriam para o nosso Santuário em Sorocaba. As autoridades de Fauna do Ibama da época negaram este pedido e praticamente congelaram o acordo entre ambos países, por razões até hoje desconhecidas e nada republicanas. Os chimpanzés terminaram indo para África do Sul, para o Santuário Éden, que estava abrindo suas portas. As autoridades angolanas tinham preferência de enviar para o Brasil, pelos estreitos laços de ambos países e porque a África do Sul, no passado, foi um aliado dos que tentavam derrubar o governo nacionalista do país.
O Santuário do Éden na realidade funciona como uma extensão de um complexo hoteleiro-turístico que existe nas proximidades, já que o dono do Santuário, das terras e do hotel é uma família sul-africana. A grande visibilidade adquirida pelo Santuário, por seus repetidos filmes em canais de TV pagas, gerou muito turismo para fins próprios, acrescentado pelo nome da primatóloga Jane Goodall, que alugou o nome do seu Instituto para esse fim.
Santuários que se convertem em zoológicos disfarçados não têm sentido (nem compromissos com a fauna que dizem proteger). Os chimpanzés não devem ser usados para exibição pública e ainda mais aqueles que constituem a população do Éden, que sofreram imensos maus tratos em suas vidas e que odeiam profundamente os humanos. Aí estão as conseqüências. A culpa não é dos chimpanzés. A culpa é dos humanos, que sempre acham um caminho para explorar seres que deveriam ser respeitados e nunca explorados em nossas sociedades.
Dr. Pedro A. Ynterian
Presidente, Projeto GAP Internacional
Fonte: http://www.anda.jor.br/04/07/2012/tragedia-no-eden
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