Piora a situação para os 200 gorilas que ainda resistem em parque no Congo
Por Vilma Gryzinski
Se para os humanos o Congo já é provavelmente o pior lugar do planeta para viver, imagine para os poucos gorilas-das- montanhas que ainda restam na natureza. Ao todo, são mais de 700 animais remanescentes. Cerca de 200 deles estão no Parque Nacional Virunga, onde uma situação que já era difícil voltou a piorar nas últimas semanas, com o aumento das atividades mortíferas de um dos inúmeros grupos armados que transformaram o país num inferno.
Os gorilas, normalmente assolados por caçadores “clandestinos” – um conceito de difícil aplicação no Congo – e até fuzilados por simples diversão por soldados com ou sem farda, ficaram ainda mais desprotegidos depois que a maioria da equipe do parque teve de ser deslocada para se proteger dos novos combates. Cerca de quarenta abnegados funcionários continuaram lá. Entre eles, Patrick Karabaranga, um dos encarregados de tratar de quatro gorilas órfãos, que só sobrevivem com a ajuda dos cuidadores, responsáveis por tudo de que mais precisam: comida, cafuné e colo, mesmo se já bem grandinhos.
As montanhas dos gorilas ficam numa região bela e maldita do Congo, onde as intratáveis disputas entre etnias, tribos, rivais políticos, militares ambiciosos e vizinhos agressivos provocaram nos últimos quinze anos as chamadas Primeira e Segunda Grandes Guerras da África. Fome, deslocamentos forçados, combates, expurgos, motins, matanças e a constante e hedionda prática de estupros em massa criaram devastação em escala difícil de avaliar – o número de mortos é calculado em algum lugar tenebroso entre 1 milhão e 5 milhões. Para os raros gorilas espremidos no meio de tantas desgraças, só há uma certeza: estão irremediavelmente condenados. Que ainda recebam colo é uma pequena vitória do espírito humano.
Revista Veja
Edição 2279 – Ano 45 – nº 30
25 de Julho de 2012
Página 47
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