A Voz de Um Chimpanzé
postado em 18 ago 2006

Na polêmica desatada na cidade de Americana entre o Zoológico daquela cidade e jovens ambientalistas que lutam pela transferência do chimpanzé Alemão de uma ilha de 15 metros quadrados onde mora há 15 anos, o Diretor do Zoológico, Dr. Tancredi, no início foi favorável à remoção, depois mudou de opinião e agora faz oposição a mesma.

O Santuário de Grandes Primatas em Sorocaba ofereceu local para receber o Alemão, como qualquer outro chimpanzé que se encontre em situação precária. Se o Zoológico de Americana deseja enviar o Alemão para outro centro que considere melhor, e se esse lugar existe, não temos nada contra. Porém, não podemos aceitar que seja usada MENTIRA para encobrir o tratamento desumano que se tem praticado com este chimpanzé em toda a sua existência.

O Dr. Luís Fernando Leal Padulla, biólogo, por iniciativa própria, responde as colocações do Dr. Tancredi no jornal O Liberal, de Americana, e nós aqui as reproduzimos:

“A voz de um chimpanzé”

Inadimissíveis as palavras (mal) colocadas do Sr. José Carlos Tancredi a respeito do Santuário dos Grandes Primatas de Sorocaba. Eu, biólogo, não posso acreditar que uma pessoa com as qualificações do Sr. Tancredi, que até então tinha meu total respeito, foi capaz de levantar suspeitas infundadas e mentirosas.
Estivemos segunda-feira (14) no Santuário, a convite do Dr. Pedro Ynterian, para conhecermos pessoalmente o trabalho desenvolvido lá. Trabalho este sem nenhuma intenção política e/ou pessoal, mas que zela pela bem-estar dos grandes primatas, os quais estão incluídos os chimpanzés. Ao contrário do que o Sr. Tancredi defende, não são meros animais que “devem ser tratados como animais, e não como gente”, como ele mesmo disse na audiência com o prefeito. Mas esse é um outro assunto que poderá ser tratado posteriormente, visto que muitas pessoas “qualificadas” não tem o mínimo de conhecimento, mesmo ocupando certos cargos.
Rebatendo suas acusações deturpadas, Sr. Tancredi, a alimentação não é nada irregular. Visitamos todos os recintos, incluíndo a cozinha e tivemos contato com todos os primatas do Santuário. E posso lhe assegurar (com total imparcialidade, afinal, não tenho – com o perdão da palavra – “rabo preso” com ninguém!) que os mesmos são tratados muitíssimo bem, com dieta balanceada e, acima de tudo, COM MUITO RESPEITO! E mais, todos são acompanhados, diariamente, por uma veterinária e toda uma equipe especializada em primatas.
Em relação aos doces e guloseimas, isso não é escondido de ninguém. Todos os chimpanzés ali presentes são provenientes de circos e zoológicos, que assim com o Parque Ecológico “Cid Almeida Franco” de nossa cidade, não possuem estrutura apropriada para acomodar esses seres, os quais acabam sendo tratados como meras “atrações turísticas”. Sendo assim, foram “humanizados”, tratados, inclusive, com bolos, doces e refrigerantes. No Santuário, esses alimentos são oferecidos esporadicamente, com a finalidade de se fazer um agrado aos mesmos. Para o conhecimento de todos, a dieta baseia-se em frutas, legumes, verduras e suco natural, todos devidamente acondicionados e preservados na cozinha.
Outro ponto que o Sr.Tancredi demonstrou total falta de conhecimento é quando contesta a possível adaptação do chimpanzé ‘Alemão’ ao Santuário. Se o Sr. Tancredi observou bem e aproveitou sua visitação ao local, saberia que os chimpanzés que lá chegam, passam por processo gradativo de aproximação com os demais membros, fato este essencial para o bem-estar deles (o que não possibilitado no atual recinto em que se encontra!). Essa aproximação é inicialmente feita através do contato visual, possibilitado por janelas protegidas por grades. Uma vez no recinto, cabe ao chimpanzé (e não aos diretores e/ou administradores!) a decisão de se aproximar, ou não, dos demais membros. O contato através do olfato também é outra questão muito importante para esses seres que são SOCIAIS, ao contrário do que dizem e pensam por aí.
Diversos cientistas comprovam essa afirmação que coloco aqui, tais como Jane Goodall e Roger Founts – por sinal, literatura básica para alguém começar a querer argumentar sobre chimpanzés.
No referido Santuário, os recintos apresentam dimensões muito maiores e mais bem adequadas ao chimpanzé ‘Alemão’.
Outra questão: a visitação não é aberta ao público. Fato facilmente justificável por serem primatas extremamente tímidos, recatados, que necessitam de suas individualidades e de seu próprio espaço, não sendo, portanto, apropriados para exibição em público. Mais um motivo para a transferência do ‘Alemão’, uma vez que essas condições não são respeitadas em seu atual recinto.
Assim, deixo aqui minha revolta, mais uma vez, perante essa situação irracional. Se aqueles que possuem um cargo (outrora) de respeito, não fazem nada para o bem-estar e dignidade de uma vida, só nos resta manifestarmos, com total indignação através desse artigo. Não sei o real motivo desse “bate-boca” infundado, afinal, acredito que o Parque Ecológico de Americana zela, com diz em seu site, pela “responsabilidade na sobrevivência das espécies animais (…)”.
O que expressei aqui é a opinião de um biólogo IMPARCIAL, apaixonado pela vida e por nossos irmãos chimpanzés. Se eles não podem falar, cabe a nós a defesa desses seres que são os verdadeiros “seres racionais”.

Luiz Fernando Leal Padulla
25 anos
Biólogo
Especialista em Bioecologia e Conservação”