A verdade do caso Alemão
postado em 11 nov 2008

Aqui transcrevemos o artigo publicado no jornal O Liberal de Americana, no dia 09 de novembro, em que o biólogo do Santuário do GAP de Sorocaba, Luiz Padulla, explica porquê está sendo recusada ajuda do GAP para salvar a vida do Chimpanzé Alemão, que se encontra no Zoológico dessa cidade.

Como um resumo da situação, esclarecemos que o jornal O Liberal descobriu dias atrás que o Chimpanzé Alemão foi transferido para as Faculdades de Leme e Botucatu, a fim de ser examinado, já que uma série de sintomas indicavam uma doença de certa gravidade. Nas faculdades mencionadas fizeram um diagnóstico que incluia problemas hepáticos, de rins e diabetes, e Alemão voltou para o Zoológico onde foi colocado em um pequeno recinto para ser tratado.


Ao tomarmos conhecimento da situação pela imprensa, nos oferecemos para receber o Alemão no Santuário de Sorocaba, que está a duas horas de distância de Americana, onde temos todas as infra-estruturas e condições, assim como a experiência em casos similares, em que a depressão pela solidão permite a aparição de doenças diversas. Na semana passada, enviamos uma carta ao Prefeito oficializando a nossa oferta de ajuda. O Secretário de Parques e Jardins de Americana, a quem o Zoológico está subordinado, fez declarações públicas falsas, negando a nossa ajuda.


O biólogo Luiz Padulla que é de Americana, e acompanha o caso do Alemão há vários anos, esclarece as colocações públicas do burocrata que coloca em risco a vida do Alemão, por razões desconhecidas.


“A verdade do caso Alemão


Se pessoas mais sensíveis e conscientes deixaram o ego de lado para aceitarem medidas que fossem melhores para o Alemão, por que o Sr. Rovílio Dutra é taxativo em não aceitar auxílio do GAP e defender a permanência do primata no Parque, a qualquer custo, sem se avaliar os riscos e a vida do primata?
Quanto às colocações de que o dia da transferência foi uma “experiência traumática e desastrosa causada pelos técnicos do GAP”, afirmo que toda essa situação foi proporcionada por eles mesmos, pois haviam dado a garantia de que neste dia o Parque estaria fechado ao público para a operação. Como testemunha ocular, o que constatamos não foi nada disso. Pessoas ligadas a circenses e falsas Ongs adentraram o Parque para tumultuarem o local, com acusações de que haviam alimentado o chimpanzé (inviabilizaria a anestesia), e que estavam com câmeras filmando tudo, além de ameaças aos profissionais do GAP, que se viram acuados, sem auxílio e segurança. E tudo isso com o consentimento deste responsável direto pelo setor de Parques e Jardins. Foi ele também o responsável por marcar a transferência para o último dia de vencimento da GTA (Guia de Transporte Animal), o que nos levou a desconfiar de tudo isso, uma vez que não é comum tal procedimento. Assim, ficou a estranha sensação de que este senhor “previu” que a transferência não daria certa, necessitando de novo pedido de GTA, o que não foi permitido posteriormente, sob as acusações de que não fomos competentes. Assim, quando este diz que não há qualquer possibilidade de transferência do primata, é algo suspeito, tendo em vista sua participação direta no tumulto passado.
O Projeto GAP, mundialmente reconhecido pela defesa dos grandes primatas, desde o início alertou que o isolamento e a solidão do primata poderiam gerar transtornos e até mesmo doenças, o que foi divulgado amplamente e até registrado junto ao Ministério Público, IBAMA e ao Prefeito de Americana. Posso afirmar que todos os profissionais ligados ao GAP têm conhecimento específico dos chimpanzés em cativeiro, e são capacitados a cuidar e tratar destes seres. Não é menosprezo aos demais profissionais, mas infelizmente faculdades veterinárias direcionam seus estudos a animais mais “comuns”, como cães, gatos, cavalos, bovinos, caprinos, sendo muito raro o estudo de primatas.
Assim, a situação que o Alemão passa hoje poderia ter sido há tempos evitada. Infelizmente o que notamos é que está havendo uma disputa de vaidades, e o bom senso e a preocupação direta com a saúde do primata, que deveria ser ponto principal nisso tudo, está sendo deixada de lado.


Luiz Fernando Leal Padulla
Msc. Biólogo Santuário GAP – Sorocaba”