A Suíça tinha uma irmã gêmea, que ficou na Suíça, quando veio para o Brasil aos 8 anos de idade, com destino ao Criadouro Comercial de Chimpanzés, em Morrete, no Paraná. Ela viveu no Paraná aproximadamente 6 anos, junto com Lulu, Margarethe, Tuca, Carolina, Ditty, Gilberto e Geron ? seu companheiro na Bahia que morreu meses atrás. Geron veio de um laboratório no Holanda, hoje fechado como o Criadouro de Morrete.
No mesmo mês que o grupo de Morrete veio para Sorocaba, Suíça e Geron foram para o Zoológico de Salvador, onde ambos morreram inexplicavelmente. Suíça teria aproximadamente 18 anos de idade, era um chimpanzé jovem, não tinha doenças físicas aparentes, apenas sofria o estresse de viver em uma gaiola exposta ao público, onde não tinha privacidade nenhuma e estava sozinha.
O Juiz Edmundo Lúcio da Cruz, da 9° Vara Crime de Salvador, aceitou o pedido do Habeas Corpus, impetrado pelos eminentes Promotores do Meio Ambiente da Bahia, Dr. Heron José de Santana e Dr. Luciano Rocha, professores de Direito, ONGs ambientalistas e um grupo de estudantes de Direito. Esse grupo inédito em qualquer outra ação era na realidade os representantes da sociedade brasileira, que desafiavam a Justiça com um instrumento legal humano, porém, como eles bem explicam pode ser aplicado a qualquer ser.
O Juiz em sua sentença, após a morte intempestiva e suspeita de Suíça, arquivou o pedido, já que ?não existindo mais a chimpanzé, a ação violenta e de coação denunciada deixou também de existir?. Porém, em sua sentença o eminente Juiz reconhece que o tema é novo, inédito e controverso, ele reconhece que não deu a liminar, e deu 72 horas ao Zoológico para pronunciar-se, já que era um Zoológico, dependente da Prefeitura, que era lento em receber e prestar informações. No entanto, o Juiz também confessa em sua sentença que fez uma visita incógnita ao Zoológico antes da morte e confessa ?a notícia me pegou de surpresa, causando tristeza, sem dúvida, pois fiz uma visita incógnita ao Jardim Zoológico de Ondina, na tarde do dia 21.10.2005, sábado passado, e não percebi nenhuma anormalidade aparente com a chimpanzé ?Suíça?, embora queira deixar claro que não sou ?expert? na matéria.?
Nós fizemos um pedido ao Juiz de dar o corpo para o Santuário, porém ele já não podia tomar essa decisão. Solicitamos então o mesmo para a Direção do Zoológico de Salvador e dias depois veio a resposta que já esperávamos: o corpo será empalhado e colocado no Museu do Zoológico. Continuam pensando como no início da tragédia; a Suíça não era uma pessoa, era um objeto para ser exibido, viva ou morta, não interessa, a vaidade e a superioridade humana frente ao resto dos seres vivos continua sendo uma realidade na mente de muitos humanos, que infelizmente tem poder decisório em nossa sociedade.
O Último Ato da tragédia de Suíça se encerra, porém sua vida e sua morte serão um exemplo para toda a Justiça Brasileira, e para toda a sociedade de nosso país. Suíça é um representante de nossos irmãos esquecidos, está chegando o dia em que reconheceremos que eles devem usufruir dos Direitos de nós humanos. A história da humanidade está cheia de relatos de raças, desde as mais primitivas até recentemente a raça negra, que foram tratadas como não-humanas durante séculos, e hoje conseguiram a igualdade necessária. Suíça é uma mártir da luta de todos os ambientalistas pelos Direitos de qualquer ser vivo sobre a face da terra.
Dr. Pedro A. Ynterian