Os Chimpanzés que tiveram a experiência de ser encerrados durante alguns meses ou até anos em pequenos recintos sem acesso a grama, a terra e ao sol, sofrem de claustrofobia crônica.
Temos vários casos destes no Santuário. Talvez o caso mais dramático é o de Rakker, chimpanzé que veio do Artis Zôo de Amsterdã. Rakker já está bem adaptado a nossa rotina, alimentação e até já entende algumas palavras em português mais usadas com ele. Porém Rakker sofre de claustrofobia intensa. Simon, seu companheiro, não tem esse problema; ele entra e sai do dormitório, e vai para outros recintos sem problemas. Rakker já não é assim. No início não entrava no refeitório para pegar sucos, leite, etc, nós tínhamos que lhe oferecer pela janela externa, pois tinha medo de ser preso dentro do refeitório. Atualmente entra com cautela e medo, e fica lá o tempo necessário para ser alimentado ou pega a comida e leva para fora.
Rakker ficou dois anos em um pequeno recinto daquele Zoológico, sem contato com o exterior, após ser espancado por vários chimpanzés adultos até quase morrer, pois não o aceitaram no grupo. Devido a sua recuperação e por não ter outro recinto disponível, ele ficou enclausurado durante um bom tempo e por isso manifestou seu trauma que com o tempo, carinho e confiança em seus tratadores, ele conseguirá vencer. Já faz mais de 1 mês que não conseguimos entrar no recinto externo dele, já que ele não sai de lá. Abrimos o recinto ao lado e Simon vai, mas ele fica na porta e não entra. Ele sente-se seguro em seu recinto externo, pois assim não corre riscos. Evitamos forçá-lo, já que é nossa política no Santuário. As práticas habituais nos zoológicos como o uso de mangueiras com água, bombas, etc., evitamos usá-las e deixamos que eles decidam o que desejam fazer, pois não importa que isso complique a nossa rotina e nossa disciplina de trabalho.
Além do caso de Rakker temos Tuca, chimpanzé fêmea que viveu anos em pequenas gaiolas de circo, e que também só entra a noite no recinto quando sabe que ninguém vai trancafiá-la; também existe o mesmo problema com Pongo, que nunca dorme em seu dormitório, apenas do lado de fora; Gil que também veio de circo e que viveu em gaiolas, prefere dormir fora com seu cobertor, do que ficar dentro de quatro paredes; Rita e Blackie, do Zoológico de Sorocaba e que ficaram conosco, também dormiam fora; Francis e Queenie, chimpanzés da Bolívia, também dormem fora e não aceitam ficar entre quatro paredes, após viver assim por mais de 30 anos de suas vidas.