A proposta das doações de revistas
postado em 29 jun 2011

CURIOSIDADES DOS CHIMPANZÉS

Por conta do nosso pedido de doações de revistas para os chimpanzés no Santuário de Grandes Primatas de Sorocaba, fomos consultados por algumas pessoas sobre a aceitação de doações de outros objetos como roupas, cobertores etc. Na realidade temos necessidade de algumas outras coisas, como camisetas tamanhos grande e extra grande, já que os chimpanzés, especialmente os que trabalharam em circos, se acostumaram a usar roupas no inverno, e também cobertores de casal ou solteiro. Geralmente compramos cobertores e os lavamos semanalmente em nossa lavanderia, mas sempre é bom ter excesso de cobertores, em especial nesta temporada de inverno. Outros objetos que os chimpanzés gostam demais são calçados do tipo tênis. Por razões de higiene e de gostos pessoais deles, que os usam como brinquedo, devem ser tênis novos, tamanho 41 a 44, que imitam grandes marcas e são de baixo valor. Brinquedos também são úteis, como bolas de futebol ou similares, carrinhos e brinquedos do tipo Lego para montar.

Tudo que possa incentivar a imaginação deles, ocupar seu tempo e combater o tédio é útil. Alguns gostam de brincar com capacetes, como esses que os operários usam na construção, e também baldes e pás para brincar com areia e terra, que são usados por crianças na praia.

As pessoas que tiverem acesso a esses itens, podem nos indicar o tipo de objeto pelo e-mail projetogap@projetogap.org.br e informaremos se podem servir ou não e se podemos retirar na zona sul de São Paulo, Capital.

O objeto de desejo de muitos chimpanzés, assim como em nós humanos, é o tênis, especialmente os baratos e incrementados, que imitam grandes marcas. Às vezes vemos pela TV as apreensões que as autoridades fazem desses tênis e pensamos como os chimpanzés gostariam de tê-los como brinquedo …

No caso das revistas, para que tenham uma idéia do uso diverso das mesmas: Bob, por exemplo, recebe duas revistas diariamente com a refeição principal e folheia as revistas enquanto come, depois desfaz as revistas em folhas e as mistura com o cobertor e com o TNT (tecido-não-tecido, que também recebemos doações em bobinas, que usamos e que muitos deles adoram). Depois ele prepara o “ninho” para dormir. Os chimpanzés preparam um ninho todos os dias, seja nas camas ou no chão, com diversos objetos: cobertores, TNT e papel, e deitam no meio. Quando está frio, eles se cobrem com o TNT ou com cobertores. Billy, outro exemplo, quando está chovendo usa o TNT como capa de chuva, que é como plástico, impermeável (polipropileno). Carol é outro caso: anda com um cobertor em volta do seu corpo, andando bípede por todo lado, já que sente muito frio. Carolina, de manhã, pega alguns iogurtes e duas ou três revistas, e vai curtir as mesmas em sua casa externa, onde monta um pequeno ninho com TNT e cobertores.

Cada chimpanzé tem um costume típico de sua personalidade. Para Guga, Carlos, Luke, Noel, Emílio, Cláudio e vários outros, o melhor presente é o tênis novo “falsificado”. Se você der usado, não se interessam. Eles gostam de sentir o cheiro da borracha nova, vão desmantelando o tênis devagar, durante vários dias, até destruí-lo, e depois andam com aquele tênis para cima e para baixo. Há casos de visitantes que usam tênis diferentes e eles pedem para que o tire do pé e dê para eles, já que são do tipo que nunca tiveram. Na realidade, a cada certo tempo, compramos alguns pares na rua 25 de Março, em São Paulo, a fim de atender os desejos daqueles chimpanzés.

Luke, por exemplo, é fã de botas de borracha, mas devem ser novas, e se forem coloridas, melhor ainda. Porém, Luke, quando era bebê, tinha um tratador no circo que o colocava na bota e o levava de um lugar a outro. Luke desenvolveu uma tara de masturbar-se com uma bota nova, em especial, a pessoa tem que colocar a bota um instante e dar depois a bota para ele. Quando ele chegou ao Santuário, anos atrás, era terrível, já que se masturbava de 15 a 20 vezes por dia, com a bota de tratadores e funcionários. Você não podia encostar a bota na grade e ele ejaculava. Esse problema foi reduzido com o tempo e evitamos essa prática perto dele, nociva à sua saúde, mas que ainda existe em sua mente, quando vê uma bota nova no pé de um tratador.

Sam, outro exemplo, gosta de carrinhos e caminhões de plástico, porém ele os conserva por muito tempo e os leva de um lugar a outro do recinto. A maioria dos chimpanzés desmonta todos os brinquedos que lhes são dados, pois desejam saber o que tem dentro ou destruí-los mesmo. O caso de Sam é único, já que não tira as rodas dos carros e caminhões, nem os desmantela, e os mantém intactos por um bom tempo.

Aqueles chimpanzés que gostam de pintar ou desenhar são um caso a parte, o único problema é que eles terminam comendo o giz ou o lápis, ou quando estão em grupo, outros não os deixam pintar ou desenhar em paz.

Os chimpanzés são muito curiosos e gostam de saber como os objetos funcionam ou não por dentro, por isso terminam desmantelando tudo o que lhe damos para matar sua curiosidade. Mas é uma forma de combater o tédio e ocupar o tempo ocioso, que no cativeiro é o principal inimigo de sua saúde mental.

Os chimpanzés são como “crianças” que pararam de desenvolver-se após 5 a 6 anos de idade. Como um treinador de Hollywood falou, “os chimpanzés são eternas crianças”. E isto é devido a sua impossibilidade de falar e comunicar-se, o que não lhes permite transmitir os conhecimentos, aprender e evoluir, que é o que desenvolveu a civilização humana. No início do Santuário, quando tivemos uma colaboração de alguns antropólogos da USP, tive uma reação emocional quando eles burlaram da minha idéia de fazer uma Escolinha para Guga e seu grupo, o que terminei fazendo, porém não funcionou como imaginei, por problemas de logística, tempo e pessoal especializado. Encerrei aquele relacionamento e a colaboração com os antropólogos pela visão em excesso antropocêntrica que eles tinham, que agredia minha visão de que os chimpanzés eram e poderiam ser. De fato, Kanzi e outros chimpanzés no mundo têm aprendido a comunicar-se conosco e entre eles, usando uma linguagem de sinais e símbolos que resultou eficiente para fazê-los aprender e evoluir.

Talvez, algum dia os que me sucedam no Santuário possam implementar aquela minha ilusão e convertê-la em realidade.

Dr. Pedro A. Ynterian,
Presidente, Projeto GAP Internacional