O que nós já estamos falando há algum tempo agora se faz evidente: São os bonobos diferentes dos chimpanzés? Justifica ser uma espécie por ter um comportamento diferente? Os bonobos são de Vênus e os Chimpanzés são de Marte? Que provas reais existem de que bonobos vivem em uma sociedade sem violência, de paz e amor, com muito sexo, homo e heterosexual, sem agressões e brigas?
Na Revista New Yorker do dia 30 de julho passado, sob o título “SWINGERS” Ian Parker desenvolve uma extraordinária matéria sobre os bonobos, que inclui sua visita pessoal na floresta congolesa, e pega o testemunho de primatólogos com visões diferentes. Ian Parker se pergunta no início da matéria: “Os bonobos são celebrados como pacíficos e amantes, matriarcais e sexualmente liberados. São na realidade?
Ian Parker coloca em dúvida as observações do primatologista holandês Frans de Waal (ver nossas matérias anteriores sobre ele no site www.projetogap.com.br ), que tem escrito vários livros, muito vendidos, sobre chimpanzés e bonobos, já que suas observações para tirar suas conclusões foram feitas em um grupo de bonobos em cativeiro no Zoológico de San Diego, que não coincidem com o que acontece na floresta ao sul do Rio Congo, onde os últimos 10.000 bonobos vivem refugiados da caça dos humanos. Frans de Waal nunca viu um bonobo em vida livre. Parker foi à floresta conferir e foi acompanhado de um grande cientista alemão, que desde 1989, visita a área dos bonobos, para estudá-los. Gottfried Hohmann, é um pesquisador do Instituto MaxPlanck de Antropologia Evolucionista, em Leipzig, Alemanha e contradiz as observações de Frans de Waal. Uma tarde no acampamento de Lui Kotal, Hohmann comentou “É tão fácil para Frans encantar a todos com suas teorias.” “Ele criou grandes histórias, nós não temos essas mesmas histórias para contar.” Freqüentemente, nós temos que falar: “Não, os bonobos podem ser terrivelmente chatos. Observe um bonobo e tem dias que você não observa absolutamente nada diferente – só dormir, comer e defecar. Não existe sexo, não existe comida compartilhada”. Durante os primeiros dias no acampamento os bonobos não se deixavam ver. “Agora – acrescenta – não estão vocalizando, porém eles estão justo lá.” “Porém se você vai à um zoológico, e dá alguma comida, a atividade é frenética. É muito diferente.”
Jeroen Stevens é um jovem biólogo de origem belga, tem investido milhares de horas de observação de bonobos em vários zoológicos europeus, e discorda frontalmente da teoria idílica construída por Frans de Waal de que: “Oh, eu sou um bonobo, eu amo a todos”. Ele foi testemunha de atos de violência entre bonobos, talvez até piores que entre os chimpanzés (Pan troglodytes). Ele chega a afirmar: “os bonobos são muito tensos. As pessoas alegam que são muito relaxados. Eu acho o oposto. Os chimpanzés são mais tranqüilos. Porém, se eu afirmo que eu gosto mais dos chimpanzés que dos bonobos, meus colegas pensam que eu sou louco.” Hohmann também testemunhou na vida livre que a sociedade dos bonobos não é um mar de tranqüilidade, e já presenciou violência e até possíveis assassinatos entre eles. Hohmann acha que as observações de Frans de Waal, que deram origem a seus vários livros, foram realizadas com um pequeno grupo de bonobos jovens e adolescentes, o maior em idade tinha 14 anos. A essa idade o comportamento é diferente e o contato sexual e as brincadeiras nessa área são muito mais intensas.
Outro conhecido primatólogo Craig Stanford, que os estudou em vida livre em 1997, também questionou a dicotomia criada entre bonobos e chimpanzés, e escreveu: “As fêmeas bonobos não copulam mais freqüentemente ou significativamente nem fora do ciclo sexual que os chimpanzés.” Também ele afirmou que “em vida livre o chimpanzé macho copula com mais freqüência que o bonobo macho”. “Ele contou só sexo heterosexual”, porém “se você inclui todo o sexo homosexual isso pode mudar”. Quando Ian Parker perguntou a Hohmann sobre o sexo dos bonobos na área de Lui Kotal, este comentou “Não é nada surpreendente.” Ele e sua equipe já observaram “g-g rubbing” (fêmeas friccionando os genitais), o qual não é visto em chimpanzés e precisa ser explicado. “Porém – Hohmann acrescenta – isso tem algo que ver com sexo? E se responde: “Provavelmente não. Elas usam os genitais, porém é um gesto erótico ou um gesto de afeto completamente desprovido de significado sexual.” (em nosso Santuário temos observado chimpanzés jovens cumprimentando-se friccionando os genitais, sem nenhum significado sexual),
O debate continua, porém, a idílica sociedade dos bonobos que Frans de Waal criou para o público, e que o fez famoso e ajudou a vender milhares de livros, não é real. É um produto de sua imaginação fértil.
Dr. Pedro A. Ynterian
Projeto GAP Internacional