O incidente ocorrido dias atrás no Zoológico de Belo Horizonte, em que um pai e seu bebê de colo foram feridos por uma pedra arremessada por um jovem chimpanzé, irritado e furioso, pela vida que leva naquele local, continua mostrando as entranhas ruins do que um Zoológico, concebido para o divertimento de um público, é também ruim para os animais inocentes que lá estão aprisionados.
No programa Domingo Espetacular do domingo passado, uma reportagem extensa foi veiculada sobre este caso, mas não se preocuparam em procurar a verdade e tudo ficou na notícia. Um suposto especialista em primatas, um veterinário do Zoológico, mostrou a sua falta de conhecimento dos seres que atende.
A teoria fantasiosa deste funcionário do Zoológico, para esconder a verdade, é que existia uma disputa pelo controle do grupo de três, entre o jovem chimpanzé e seu pai: “aquela foi uma demonstração do poder do jovem frente ao pai”. O mesmo funcionário fez comentários absurdos de que um chimpanzé tem a força de 10 homens, que é agressivo, etc, etc.
Na realidade o que está acontecendo naquele Zoológico é o mesmo que acontece em todos os outros, inclusive nos Santuários. O chimpanzé é um ser sumamente inteligente, ele sabe que está sendo usado para divertir humanos, sabe que é um prisioneiro num local exíguo, onde não existe privacidade para ele e sua família. Sabe que essas horas que fica em exposição é o único momento de respirar o ar, pois quando o Zoológico é fechado, ao entardecer, é recluído num pequeno ambiente, durante 14 a 16 horas. Sua biologia lhe exige comer durante o dia e dormir a noite e no Zoológico o tempo está invertido – come a noite, antes de dormir.
É impossível pensar que aqueles chimpanzés, levando aquela vida miserável, dias atrás dia, mês atrás mês, ano atrás ano, não sejam seres revoltados e os motivos da revolta para ele são os humanos que os assediam e os humilham, desfilando frente ao seu exíguo recinto.
No Santuário, aliás em qualquer um, acontece algo parecido, quando alguém estranho aparece – imprensa, autoridades ou técnicos – para visitar o local. Pedra, terra, fezes são arremessadas para atingir essas pessoas que invadiram o sossego de sua casa. Conosco e com os tratadores eles são amáveis, brincalhões, solidários, amorosos, já que, em seu entendimento, nós somos seus protetores e seus aliados, não importa que ao mesmo tempo sejamos aqueles que os mantém prisioneiros.
A primeira vez que levamos um “banho” de fezes de chimpanzés foi a mais de uma década atrás, quando visitávamos a Faculdade de Veterinária da Universidade do Texas, onde os chimpanzés eram submetidos a tortura médica. A revolta, com ainda mais razão, daqueles seres era imensa e a manifestavam daquela forma, tentando nos agredir com o que tinham à mão.
O Domingo Espetacular teria realizado um extraordinário serviço para a causa de defesa animal se tivesse procurado mais informações de pessoas competentes e não veiculasse somente uma opinião anti-científica de pessoas interessadas em continuar explorando, até a morte, nossos irmãos primitivos.
Aquela pedra que feriu uma menina inocente e seu pai desinformado será a marca que o Zoológico não conseguirá nunca apagar. É o protesto de um primata ante uma sociedade que o ignora e o usa, para seus piores propósitos.
Dr. Pedro A. Ynterian
Presidente, Projeto GAP Internacional
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