A parceira dos chimpanzés
postado em 03 out 2009

Entrevista com Jane Goodall (publicada no jornal The Miami Herald em julho de 2009)
 
Por Pat Morrison*
 

Chimpanzés e humanos compartilham aproximadamente 99% do seu DNA. Se afinidade e consciência contam, Jane Goodall deve ter um pouco a mais.

 

Sendo a primatologista mais renomada do mundo, ela e seu trabalho mudaram o que pensamos sobre nossos irmãos primatas como criaturas que pensam e sentem, que fazem ferramentas, pacificadores e guerreadores.

 

Uma das originais “Leakey Ladies”, consagrada pelo paleontologista e antropólogo Louis B. Leakey, Goodall ainda vai ao encontro, duas vezes por ano, dos chimpanzés no Gombe, Tanzânia. Em um mundo de celebridades transitórias, ela se mantém tanto famosa como influente. Embora seja vitimada por uma desordem chamada “prosopagnosia”, que faz com o reconhecimento de rostos seja difícil, ela mesma se mantém instantaneamente reconhecível, com seu rabo de cavalo loiro se tornando cinza depois de 75 anos.

 

Recentemente, depois que Goodall conheceu o Prefeito de Los Angeles, Antonio Villaraigosa, e sua companheira, Lu Parker, na África do Sul, Parker colocou no twitter: “Conheci a Dra. Jane Goodall.”

 

Ela diz que não é uma questão de lutar pelos direitos dos animais, é uma questão de lutar pela responsabilidade humana. Em setembro, o mais novo livro de Goodall, “Hope for Animals and Their World” (Esperança para os animais e seu mundo) será lançado.

 

Tem quase 50 anos desde que ela e sua mãe desembarcaram de um navio na África e encararam vales de florestas imaginando quando ela iria começar a achar um chimpanzé para seus estudos. Isso, como foi demonstrado, foi a parte mais fácil.

 

Os chimpanzés a ensinaram a pensar sobre as pessoas de forma diferente ?
JG: Aprendendo sobre chimpanzés me ajudou a visualizar melhor os longos milhares de anos de evolução do homem e, de uma certa forma, ver porque nos comportamos do jeito que nos comportamos. E considerando que eles são iguais a gente em várias coisas, qual seria a principal diferença? Nós desenvolvemos esta linguagem escrita que nos permite ensinar e planejar para o futuro distante.

 

Por que os humanos são tão resistentes ao seu parentesco com animais, mesmo os primatas ?
JG:
 Era certo se pensar, entre as pessoas da área de comportamento animal, quando eu comecei, que os humanos eram completamente separados e diferentes em tipo e nível dos outros animais. Eu nunca senti isso. Definitivamente vi uma mudança. Mas há uma grande resistência em se pensar em animais como seres que têm emoções, sentimentos por todos que estão envolvidos em pesquisas invasivas – ou colocando animais em gaiolas e fazendo experimentos com eles, na indústria da carne. É mais fácil ser ruim com criaturas se você pensa que eles não tem sentimentos próprios.

 

Eles ainda são usados em performances e como pets – como o caso do chimpanzé Bubbles, de Michael Jackson ?
JG: Todo o uso de chimpanzés em entretenimento significa que o bebê foi tirado de sua mãe, que nunca terá uma vida normal. Quando eles crescem, eles vão para pesquisas médicas ou são enviados para zoológicos horríveis nos países em desenvolvimento. Tristemente, algumas pessoas ainda pensam que eles são “fofinhos” e charmosos e não sabem nada sobre sua vida selvagem, zero, nada.

 

Com o seu projeto “Roots and Shoots” você estende o trabalho com os chimpanzés para o seu habitat, e depois para a saúde no planeta. Por que ?

JG: Eu estava viajando ao redor do mundo, falando sobre assuntos de chimpanzés e sobre como tudo está interligado. E o quanto precisamos estar preocupados com as florestas porque elas sequestram carbono que colaboram para as mudanças climáticas, blah, blah, blah. Não vale a pena alguém passar sua vida tentando salvar os animais ou seus habitats e, ao mesmo tempo, não estão ajudando novas gerações a se tornarem melhores administradores do que fomos. Assim, “Roots and Shoots” consiste em projetos que visam tornar o mundo melhor. Primeiramente, para as pessoas; segundo, para os animais; terceiro, para o meio ambiente. No momento ele está em 110 países com 10 mil grupos ativos.

 

Então, o que um humano pode fazer ?

JG: Eu sempre digo, “Se você passar um pequeno tempo pensando sobre as conseqüências das escolhas que faz no dia-a-dia – o que você compra, o que come, o que usa, como interage com as pessoas e os animais – e começar a fazer escolhas conscientemente, isso será benéfico, em vez de prejudicial.”

 

Você está mais otimista, após 50 anos de trabalho, do que quando começou ?

JG: Quando eu comecei não havia motivos para preocupações. Todas as coisas terríveis que começamos a fazer em termos ambientais para o planeta tiveram início depois da II Guerra Mundial. As coisas estão muito ruins agora. Acho que estamos quase num ponto de não retorno, mas ainda não chegamos lá. A questão do meu novo livro é que é possível mudarem as coisas se tivermos determinação política.

 
Qual é a sua representação preferida na cultura pop ?

JG: Ah, um cartoon do Gary Larson com dois chimpanzés fazendo grooming, e a chimpanzé fêmea tirando pêlos do macho e dizendo “Ah, outro pêlo loiro. Você tem feito mais pesquisa com aquela mercenária Jane Goodall ?”

 

Pat Morrison é uma colunista do Los Angeles Times e apresenta um programa diário de curiosidades na rádio pública de Los Angeles.

 

(C) 2009 The Los Angeles Times