Aqui reproduzimos a tradução do texto em inglês dos últimos minutos de vida, de um Chimpanzé chamado Pablo, que residia no Santuário THE FAUNA FOUNDATION, no Canadá, e que representou toda a dramaticidade da situação dos chimpanzés que sofrem abusos por humanos; que ora os protegem e ora os maltratam.
“Caros amigos e família da Fauna Foundation
É com grande pesar que anunciamos a morte de nosso querido amigo Pablo.
Apesar de sua morte repentina e inesperada, alguns de nós tivemos muita sorte por estar com ele, junto aos outros chimpanzés, horas antes dele partir. Somos gratos por ter passado este tempo com ele e saber que morreu rodeado pelas pessoas que realmente o amavam.
Percebemos que a vida de Pablo sensibilizou além de aquelas pessoas que viveram e trabalharam com ele diretamente, aqueles que disporam de tempo, dinheiro, pensamentos e prazeres para os chimpanzés aqui na Fauna, fizeram dos últimos quatro anos de Pablo, alguma coisa digna de viver. Por esta razão, nós sentimos que é importante dividirmos com vocês o último dia de Pablo, de maneira que vocês também pudessem sentir que estiveram com ele, quando mais precisou do nosso amor.
Os primeiros sintomas de angústia de Pablo apareceram na manhã de sábado, dia 6. Quando Dawna e Arryn chegaram de manhã, Pablo sentou-se de frente, no túnel, acima dos quartos, lutando para respirar. Ele às vezes ficava de pé, balançava para atrás e para frente, mas sem deixar o túnel. O lábio inferior estava caído e sua língua roxa. Ele aparentava desconforto e pânico, parecia que não sabia o que estava lhe acontecendo.
Pablo estava sem saber de que adoecia. Em se tratando de um veterano de pesquisas biomédicas foi vítima de doenças como coluna fraturada, bronquite crônica e ataques de ansiedade, Pablo costumava ficar doente. Mas neste período, alguma coisa estava diferente. Assim que Richard o viu, ele sabia que sua condição era grave e imediatamente contactou o Dr. Mahoney, um veterinário de primata, que conhecia bem o Pablo, e os dois lutaram para definir o diagnóstico pelo telefone.
No laboratório, Pablo foi conhecido como um chimpanzé “cabeça dura”, porque se recusava a cooperar com os técnicos do laboratório. Considerando que alguns chimpanzés ofereciam um braço ou o ombro para uma injeção, Pablo espancava tudo em volta de sua jaula, pulando e chorando diante de uma seringa. Gloria aprendeu de primeira mão, rapidamente após os chimpanzés chegarem à Fauna, quando ela tirou uma caixa de ataduras, para um procedimento médico que aconteceria no dia seguinte. De frente ao equipamento médico, Pablo teve um ataque de histeria, dando pancadas em volta do quarto, e quase sufocado, por causa de sua ansiedade. No sábado, quando Richard tentou cuidar da saúde de Pablo, este ofereceu seu braço à ele, para aplicar várias injeções.
Os amigos humanos de Pablo, incluindo John, Diana, Arryn, Dawna, e claro, Gloria, permaneceram toda manhã ao lado dele, ficando em sua companhia e oferecendo-lhe bebidas. Pablo às vezes se levantava, balançava para frente e para atrás e deitava de costas. Todas as vezes ele se inclinava contra a jaula, para ter contato com seus amigos humanos. Sua bravura foi contagiosa e nós todos pensávamos que ele resistiria.
Finalmente, à tarde, o tempo de Pablo se esgotou. Ele vomitou rapidamente, estendeu os seus braços para sua frente, e morreu.
Felizmente, ele estava rodeado por alguns de seus mais íntimos amigos humanos…, infelizmente, a exceção foi Pat, considerada como companheira humana mais íntima de Pablo. Depois de abrir o quarto, entramos e vagarosamente levantamos Pablo do chão. Gloria sempre disse que quando um chimpanzé morresse, ela queria que os outros chimpanzés tivessem a chance de dizer adeus. Então, deitamos Pablo sobre um cobertor, deixamos o quarto e permitimos que os chimpanzés o vissem.
Os chimpanzés sabiam que alguma coisa estava errada e Annie e Pepper foram as primeiras a chegar e verificar o que tinha acontecido com o Pablo. Pepper rapidamente desceu a escada e inspecionou seu corpo. Ela instantaneamente virou-se para nós, com uma mão estendida e gritou. Annie seguiu e inspecionou o rosto e o peito de Pablo, cheirando várias partes de seu corpo. Então ela se virou para nós chiando e ofereceu seus dedos através da jaula. Yoko, veio à porta e olhou para Pablo, mas nunca atravessou o limiar. Sue Ellen nunca foi vista. Cada um dos outros chimpanzés que viveram com Pablo entraram no quarto, uma ou duas vezes, e sentaram por um instante com ele. Examinaram-o, dando voltas em torno dele. Donna Rae, olhou como se ela estivesse tentando acordá-lo, empurrando-o e puxando o cobertor, depois jogou água no rosto e no ouvido dele. Ela finalmente, desistiu e tratou do corpo dele como os demais. Billy Jo, abriu as pálpebras de Pablo e olhou em seus olhos.
Todos os chimpanzés e os humanos andaram em volta atordoados, consolando uns aos outros com abraços ou com toques através das barras. Enfim, cada um dos chimpanzés do grupo atual de Pablo, tiveram uma chance de estar com ele e o quarto ficou novamente fechado. Entretanto, Pablo foi um velho e querido amigo de Tom, que vive sozinho com Jean, em uma seção menor da construção. Os dois não tinham ficado juntos por um tempo, mas pensamos que Tom se emocionaria ao ver seu velho amigo, pela última vez. A porta foi aberta para que Tom entrasse e ele dirigiu-se rapidamente para vê-lo. Percebendo que estava morto, gritou e avançou mostrando o túnel, através de batidas e chutes na jaula. Quando terminou, Tom voltou para ficar com Pablo pela última vez.
Depois que todos os chimpanzés do grupo de Pablo, tiveram a oportunidade de vê-lo, o seu corpo foi retirado da jaula. Uma autópsia preliminar foi realizada, ainda que os resultados fossem indecisos. Esperamos ter uma autópsia mais completa, mas até então permaneceremos incertos da causa de sua morte.
Pablo faleceu aproximadamente 4:00 da tarde, no sábado 6 de Outubro de 2001. Ele tinha 31 anos de idade.
Sempre o amaremos. Que ele descanse em Paz.”
Biografia de Pablo
Pablo nasceu em 1970 no Centro de Primatologia da Universidade de Oklahoma, dirigido pelo Dr. Lemmon, triste lembrança para muitos chimpanzés que também foram torturados em vida, durante 16 anos em centros de pesquisas, como o de LEMSIP e Buckshire Corporation. Foi anestesiado 220 vezes com dardos e teve 20 punções de fígado, medula e nódulos linfáticos. Pablo chorava aterrorizado cada vez que se abriam as portas do laboratório onde ele morava com outros chimpanzés, temendo mais agressões. Foi inoculado repetidamente com virus HIV, tanto como 10 mil vezes a dose letal, porém nunca foi soro-positivo. Até o momento da morte, Pablo foi HIV negativo. Um exemplo vivo de como os seres humanos abusam e torturam os animais com a falsa justificativa de salvar vidas humanas.