Os chimpanzés têm uma memória fotográfica, quando eles conhecem alguém e essa pessoa aparece meses, ou anos depois, eles se lembram de que a conheceram. Já tivemos diversas experiências desse tipo. Algo talvez mais interessante aconteceu conosco dias atrás. De manhã quando vamos com o grupo de Guga na área de mata, passamos uma parte do tempo em nosso pequeno rio, especialmente agora, na época de seca, que ele se reduz muito.
Eu tenho ensinado os bebês a limpar o rio, retirar as folhas, galhos e pedras para facilitar a corrente de água e evitar que a mesma fique empossada. Geralmente uso um galho que não quebra facilmente e de boa dimensão para esse serviço. Então quando vamos embora, o escondo, quando os chimpanzés não estão olhando, a fim de conserva-lo, já que eles sempre querem tirá-lo de mim pois acham que é melhor do que o galho que eles usam.
Dias atrás, o chimpanzé Carlos (4 anos e meio) desceu ao rio antes que eu, e foi direto ao esconderijo onde guardo o galho, o pegou antes que eu e saiu correndo para limpar o rio. Ele devia ter me visto no dia anterior quando o escondi e foi direto pegá-lo no dia seguinte.
Outra demonstração de memória dos chimpanzés é o caminho, quando eles aprendem um caminho, dificilmente o esquecem. Nós evitamos entrar em novos territórios, já que quando eles sabem que não tem perigo, querem trilhá-lo de novo. Dias atrás, tivemos problemas com alguns vizinhos que estavam com uma serra elétrica cortando madeira. Eu deixei os bebês no Santuário e voltei junto com o tratador Beto, e Guga, para ver o que eles estavam fazendo. Quando vi que estavam cortando árvores, iniciei uma discussão com as pessoas, ameaçando denunciá-las a Polícia Ambiental. Guga não sabia o que estava acontecendo, porém sabía que não eram amigos. Fomos embora. Isso foi em uma segunda-feira. Voltamos na área do rio na sexta-feira que fica perto da divisa onde estavam cortando as árvores. Em um momento Guga desapareceu. Começamos a chamá-lo e decidimos voltar, já que quando se sente sozinho ele volta e foi o que aconteceu.
Fiquei com medo de ir para o rio, porém pedi para o tratador esconder-se na mata antes de nós e observar o que Guga fazia. O mesmo aconteceu, Guga sumiu. Nós voltamos e ele apareceu. O tratador nos informou que ele ficou perto da divisa, observando uma casa que se vê desde lá e alguns animais como cachorro, cavalo e vaca que lá ficam sem fazer barulho. Quando pensou que ficou sozinho, ele voltou pelo caminho de encontro a nós. Aquela trilha e aquele ponto onde ele fica é o mesmo onde nós discutimos com os vizinhos dias atrás.