Paulina Bermudez é a diretora do Projeto GAP no México. A notícia que o Zoológico deu no dia 24 de Julho, anunciando a morte do orangotango Jambi, já estava anunciada para ela. Ela o conheceu quando trabalhou lá, assim como a seu irmão Toto, desde aquele momento lutou para tirá-los daquele antro da morte, onde viviam mais de 24 anos sem futuro, sol nem esperanças.
No dia 26 de Julho, domingo, ela convocou uma manifestação frente ao Zoológico, para denunciar a atitude da direção do mesmo, que negou a transferência dos dois irmãos para o Brasil. Aqui suas palavras emocionadas da jovem lutadora frustrada por não poder salvar a vida de Jambi e temendo o pior para Toto, agora em total solidão, encaminhando sua vida para a morte:
“Saudações a todos, obrigada por estarem aqui neste momento tão difícil. Meu nome é Paulina Bermudez, sou Diretora do Projeto GAP no México. No dia de hoje estamos aqui reunidos por um querido amigo que perdeu sua vida no dia 24 no Zoológico de Chapultepec. Seu nome era Jambi, era um orangotango esperto, curioso e foi uma pessoa que nunca se rendeu.
Conheci Jambi no ano de 2013, já o tinha visto antes, porém o conheci esse ano quando comecei a trabalhar no Zoológico de Chapultepec. Confesso que quando entrei no mesmo, tinha esperança de achar animais sadios e felizes de estarem lá, porém a experiência só me ensinou que sucedia todo o contrário, os animais não estão nem sadios nem felizes ao ficar atrás das grades. Minha maior lição da minha passagem pelo Zoológico, a levo dos próprios animais, com eles aprendi a importância de não deixar que nunca nem ninguém coloque uma jaula encima, nem físicamente nem mentalmente.
Jambi e seu irmão Toto, que ainda está vivo, porém ainda prisioneiro neste carcel de inocentes, me ensinaram isso. Vê-los diariamente, durante tanto tempo me fez entender que sua saúde piorava dia após dia, os 7 dias da semana, porém o que mais me impressionou é que Jambi, apesar de ser um prisioneiro, nunca perdeu interesse pelo mundo em sua volta.
Desde suas quatro paredes de concreto, através do cristal que ele observava, ainda estava ligado com a gente que vinha visitá-lo, com a gente que ao vê-lo sentia sua dor, com a gente que sentia solidariedade com ele, não importa que a maioria das pessoas que visitavam o Zoológico, vinham para burlar-se dele, para fazer piada de seu aspecto.
Ao sair do Zoológico, continuei visitando-o, seguia pendente deles e durante muito tempo estive sozinha, até que um dia o Projeto GAP deu uma esperança que tanto Jambi necessitava, e foi assim que iniciei uma petição na change.org que tinha o fim de salvar sua vida, queria que tivessem uma aposentadoria em um dos melhores santuários do mundo, o Santuário de Grandes Primatas do Brasil.
Fiz uma promessa a Jambi e cumpri, falei a ele que não estaria só. Tive uma reunião com o Diretor Geral de Zoológicos e Vida Silvestre, Juan Arturo Rivero Rebolledo e com a bióloga Adriana Fernandez, Diretora do Zoológico de Chapultepec e lhe apresentei a proposta, falei que Toto e Jambi não poderiam seguir assim um minuto mais e que oferecia levá-los ao Santuário, pagando todas as despesas do traslado e manutenção por vida, e suas respostas foram negativas.
Estas são as consequências, Jambi morreu sexta-feira, dia 24, não sei nem o que será do seu corpo, se será taxidermiado ou será incinerado, porém sei que Toto pode ter a sorte de ser traslado para o Santuário para a sua reabilitação. Os dias passarão e Toto perceberá que seu irmão não voltará, ficará confuso e temo que se largue a morrer.
Jambi não só perdeu a vida sexta-feira, a perdeu a cada minuto, de cada dia, de cada semana, de cada ano que ficou prisioneiro e o pior de tudo é que para nada, absolutamente para nada serviu, não ensinou nada a ciência, não ensinou nada a gente mais que a miséria que vivem estes animais presos em Zoológicos. Isso não ficará assim, durante muitos anos vi morrer animais no mais absoluto silêncio, quando trabalhei ali perdi a Nanuka, a ursa polar, perdi a Xiu Hua, a ursa panda, perdi a Khartoum, o rinoceronte branco e este ano perdi a ti, Jambi, e sinto profundamente.
Quis te ajudar, quis salvar-te e talvez foi muito tarde. Porém, hoje temos uma segunda oportunidade, de fazer bem as coisas, de deixar de tratar os animais como se fossem coisas. Senhor Juan Arturo, os animais não são objetos de coleção, os animais não são coisas para exibir, os animais são pessoas, os seres humanos são animais, os orangotangos são animais e temos o mesmo valor e o mesmo direito de viver livres e de uma forma digna.
Jambi é o sintoma de uma sociedade doente de ego, que sente que nossos caprichos valem mais que a vida de alguém, porque Jambi e todos os animais que estão presos são pessoas também. Uma pessoa a quem lhe reconhece o direito a não ser tratado como uma propriedade. Jambi era isso. Jambi era uma pessoa e merecia algo melhor.
Toto ainda vive. Toto é nossa chance para fazer que a morte de Jambi não seja em vão. Aprendamos com nossos erros, aceitemos com humildade. Toto tem as portas abertas do Santuário, o estão aguardando no Brasil, sei que preferiram ficar com Jambi porque pensaram que o Zoológico era a melhor opção, hoje fica claro que não é.
Senhor Juan Arturo Rivera, Senhora Adriana Fernandez, lhes peço sensatez, lhes peço que tomem a melhor decisão para Toto, agora que temos tempo, sabem onde e como encontrar-me, estou pronta para trasladá-lo ao Brasil, não perdamos nem um momento mais.
E a vocês que estão aqui para fazer homenagem a Jambi, lembrem que para abrir uma jaula tem que abrir sua mente. As jaulas não as queremos, nem maiores nem mais limpas, as queremos vazias.
Em memória a Jambi, obrigado a todos por sua atenção.”
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