Das coisas nefastas que os homens têm feito com o reino animal, o maior pecado é a destruição dos vínculos familiares. Tanto em circos, como zoológicos, criadouros e no mundo “pet”, eles pouco se importam com o vínculo afetivo entre mães, pais e filhos de qualquer espécie.
Talvez, os casos mais dramáticos existem entre os grandes primatas, que sofrem terrivelmente com as separações irreparáveis e repentinas. Quando começamos a entender o mundo dos grandes símios, 12 anos atrás, vimos como os zoológicos e circos manipulavam os casais, os nascimentos e a reprodução.
Por exemplo, um zoológico tinha um chimpanzé macho e outro tinha uma fêmea. Por um período de tempo, os juntavam e lhes permitiam a reprodução. Os bebês eram arrancados da mãe poucos dias depois do nascimento e eram enviados ao zoológico que “emprestou”, por exemplo, o espécime macho. Inclusive, eram feitos contratos de comodatos daqueles indivíduos, para especificar de quem seria o primeiro bebê e o segundo, a quem pertencia. Dessa forma, foi criada uma indústria de produção de bebês que nunca ficavam com a mãe, ainda estando no lugar de nascimento. E quando a mãe não amamentava o filho, em poucos meses, estava pronta para uma nova gravidez.
Como e quanto esta separação afetava mentalmente tanto os pais como os bebês, é um tema que ninguém se importava em analisar. Além daquela prática sórdida de roubo de bebês, também se dividiam as famílias, após alguns anos de convívio juntos.
O Zoológico de Belo Horizonte, que recebeu duas gorilas jovens da Inglaterra – pouco antes da morte do macho solitário Idi Amin, que lá morava – , agora, ante a desaparição do macho e de uma das jovens, está planejando destruir outro vínculo familiar, trazendo dois gorilas do Loro Parque, da Espanha, que têm uma vida familiar estável.
Temos um exemplo terrível de como um grande primata pode ficar perturbado mentalmente quando é separado de sua mãe, após um convívio de alguns anos com a mesma. O chimpanzé Pongo é um dos mais perturbados do Santuário do GAP de Sorocaba. Ele não se dá nem com outros chimpanzés nem com nenhum humano. Tem alucinações, movimentos repetitivos, claustrofobia e outras perturbações, porque além de ter sido separado de sua mãe, após alguns anos de vida em comum, o colocaram por dois anos numa gaiola de um zoológico, que ainda estava em construção em Fortaleza.
Os chimpanzés e os gorilas, em especial, têm uma vida familiar intensa, permanente, rica em atividades comunitárias e se sentem totalmente abandonados quando são arrancados daquele ambiente íntimo.
Os zoológicos da Comunidade Europeia também não respeitam esta vida familiar. Se falta um indivíduo de uma espécie em algum zoológico, o arrancam de algum outro e o enviam ao destino que ficou sem a espécie, a fim de preencher aquele “vácuo”. Um intenso movimento de espécies e de famílias destruídas é o resultado desta política cruel, que considera os animais como objetos do homem, que pode fazer de seu destino o que bem entender.
Dr. Pedro A. Ynterian
Presidente, Projeto GAP Internacional
Fonte: http://www.anda.jor.br/20/09/2013/a-destruicao-da-familia