O inferno destes dois chimpanzés, um nascido na Bélgica e o outro na Holanda, chegava ao fim quando o caminhão da Transportadora Wind acercava-se devagar no recinto, que há alguns meses já os esperava. A entrada no recinto foi rápida, Rakker entrou primeiro, Simon minutos depois. Já era noite do dia 09 de Junho e todos que os esperavam com ansiedade no Santuário respiraram tranqüilos. Aquelas pesadas gaiolas, que totalizavam uma tonelada de peso, já estavam vazias e aqueles dois seres que não tiveram destino nos últimos anos, agora o tinham, rodeados de seus irmãos, tanto humanos como não humanos, que os receberam com alegria.
Para chegar a este fim, vários meses se passaram, como é habitual nestas transferências internacionais. Muitas documentações, muitos Ministérios envolvidos e dezenas de comunicações trocadas entre nós e os holandeses. Junto com Simon e Rakker chegaram seus tratadores do Zoológico. Eles não conheciam para onde estavam indo, assim como os chimpanzés, e estavam também apreensivos com o que poderiam encontrar. Existem muitos Santuários e Zoológicos que deixam a desejar. A experiência no aeroporto de Guarulhos já não foi boa, a Receita Federal e a Infraero que deveriam colaborar e sensibilizar-se, só criaram dificuldades, fazendo com que eles permanecessem no aeroporto quase o mesmo tempo que ficaram voando. Um bom exemplo de como o Brasil trata seus visitantes.
O Ministério da Agricultura foi o único que deu um tratamento adequado e temos que aqui registrá-lo. Ficamos surpresos quando em nosso e-mail recebemos fotos do Dr. Miguel (GAP), dos tratadores e da fiscal agropecuária, junto aos chimpanzés, aguardando pela Excelentíssima Receita Federal colocar seus “benditos” carimbos e assinaturas. A própria fiscal agropecuária, a Dra. Christina Isoldi Seabra, enviou as fotos para nos deixar tranqüilos. A Infraero que deveria colaborar demorou para autorizar a transferência à zona de carga, onde os chimpanzés poderiam ser alimentados, já que ficaram vinte horas sem comer. Chegou até ao absurdo de proibir a Rede de TV SBT a entrar na área para fazer as filmagens. Porém, não se negou a cobrar uma boa quantia pelo passe dos chimpanzés por suas dependências. COBRAR SEMPRE, TRATAR BEM NUNCA.
Simon e Rakker como já relatamos previamente no site, criaram-se juntos, estabelecendo fortes vínculos, como de irmãos e não poderiam ser separados. Quando Rakker foi rejeitado pelo grupo de adultos do Zoológico, e atacado violentamente, ficando quase a beira da morte, Simon também entrou em depressão. Segundo nos contam os tratadores, se um ser humano tivesse sido atacado como ocorreu com Rakker, haveria morrido. Durante duas horas e meia foi submetido a procedimentos cirúrgicos para suturar todas as feridas de seu corpo. Atualmente Rakker ainda tem seqüelas em sua personalidade referente aquele ataque, tem medo de outros chimpanzés, se esconde com facilidade e desconfia de humanos que não conhece.
Segundo a tratadora Ivonne, que cuidou de sua recuperação e está com ele há 10 anos, para Rakker o Santuário é um paraíso, pelo clima excelente, pela liberdade, pela falta de público e pela companhia de Simon.