Eu uso aparelhos para surdez. Todos os chimpanzés ficam fascinados pelos aparelhos, e me pedem para vê-los. Especialmente aqueles que vejo eventualmente em outros Santuários. Eu abro o aparelho para mostrar a pilha interna e coloco de novo. Vitor, o chimpanzé que não tem um braço e que tem aparecido ultimamente em programas de TV, tem um problema crônico de infecção no ouvido esquerdo, que estamos conseguindo resolver, porém, ele acha que meus aparelhos de ouvido me protegem dos problemas que ele padece. Dias atrás eu tive que trocar um dos aparelhos por outro, já que quebrou o original, sendo o substituto de um modelo diferente. No ato que ele me viu com um aparelho um pouco diferente no ouvido esquerdo, me pediu para ver e eu mostrei, então ele me pediu para ver o outro direito, para comparar.
No dia seguinte, eu voltei a usar os aparelhos normais, já que tinha consertado o quebrado. Imediatamente ele percebeu que eu não tinha o de ontem, me pediu novamente para vê-lo e conferí-lo. Coisas simples que os humanos nem percebem os chimpanzés percebem. Sua capacidade de observação é fantástica, por isso eles aprendem e progridem.
Por exemplo, se eu troco de roupa, como acontece no fim do dia, e vou vê-los, me pedem para tocar a minha roupa, ver os bolsos, acionar o zíper, etc. Dias atrás, Luke estava na área de cerca elétrica, e às vezes ao sair do Santuário no fim do dia, eu passo por lá, porém geralmente não entro. Desta vez entrei para dar-lhe alguns iogurtes, eu estava com a roupa de saída, ele me fez ficar para revisar toda a roupa, diferente do avental que uso diariamente.
Quando vem pessoal da TV para filmar, especialmente apresentadoras com roupas diferentes, e elas têm contato com os chimpanzés, eles pedem para ver os sapatos geralmente diferentes ou as bijuterias que elas usam. Outra grande curiosidade que eles têm são os bolsos, e quando entram com Guga e Emílio, nós avisamos que celulares, relógios, etc., devem ser deixados fora do recinto, já que senão eles podem apanhá-los e será difícil devolve-los.
Uma semana atrás, Guga e seu grupo estava no recinto, eu fui por uma janela para cumprimentá-lo no início da manhã. Guga veio a mim e me fez gestos que queria algo. Eu mostrei bananinha, gelatina, leite condensado, que geralmente carrego no avental, para dar como agrado, porém ele fazia gestos com a cabeça que não queria, por fim, eu entendi quando ele apontou para o meu bolso posterior direito na calça, coloquei a mão no bolso e tirei as chaves, ele abriu um sorriso grande, e me pediu para abrir o túnel, que dá acesso a escolinha e para a cerca elétrica, onde eles têm uma visão maior do Santuário. Guga sabe em qual bolso eu geralmente carrego as chaves, que para ele é a forma de ir onde deseja.
Nunca subestime a capacidade de observação de um chimpanzé, ele vê onde você nem percebe, e capta até o seu estado de ânimo com um olhar em sua face.
Dr. Pedro A. Ynterian
Notícias do GAP 30.01.2008