Em vida livre sem dúvida não. Anos antes também serão extintos os bonobos, os gorilas e os orangotangos. Também já terão desaparecido da natureza os elefantes, os leões, os tigres, os rinocerontes, os hipopótamos e a maioria dos grandes mamíferos terrestres.
O habitat natural destas espécies foi arrasado pelo crescimento populacional humano. Consideremos que a África, o continente onde ainda existe boa parte dessas espécies em vida livre, deverá ter mais de dois bilhões de habitantes nessa época, que precisarão se alimentar, trabalhar e ter moradia. Tudo isso será feito às custas dos recursos naturais que ainda restarão nos próximos 35 anos. As selvas serão destruídas por seu valor de venda e a terras serão usadas para produzir comida. Todos os seres que lá moravam, nas últimas fronteiras intocadas do Planeta, estarão expostos ao avanço da chamada civilização humana e desaparecerão.
O absurdo desta situação é que nada sério está sendo feito realmente – fora da retórica de sempre – para salvar já estas espécies. Sabe-se que será inevitável, ao ritmo da destruição da natureza, que ninguém sobreviva além dos humanos. Não obstante, ninguém tem um plano real para impedir que isto aconteça e, quando acontecer, não existe uma alternativa para manter algumas dessas espécies extraordinárias vivas.
Se refletirmos rapidamente pelo mundo, veremos que em 2050 não existirão em vida livre, nem em cativeiros decentes, mais de algumas dúzias de chimpanzés, que não garantirão que anos mais tarde a espécie possa chegar à extinção total. Em 2050, na América do Norte, existirão só algumas dezenas de chimpanzés, em alguns poucos cativeiros decentes, que não resistirão muito porque a maioria foi submetida a torturas médicas que destruíram seus organismos. Na América Latina, fora o Brasil, não existirão mais chimpanzés. Os de zoológicos – os poucos que ainda existem – morrerão. Na Europa, não existem cativeiros decentes que mantenham alguns exemplares vivos. Na Ásia, ainda pior. Não existe reprodução nos cativeiros existentes; então, em 35 anos, todos deixarão de existir.
Quando estou com o chimpanzé César e suas irmãs, todos com menos de 8 anos de idade, penso que talvez esta família chimpanzé seja a única que consiga ultrapassar o ano trágico de 2050.
A incompetência da humanidade, seus dirigentes e organizações de desenhar algum projeto sério e realista para ao menos salvar representantes de uma espécie, como o Homo troglodytes, com os quais nos unimos em uma quase total identidade genética, prova que as gerações humanas que hoje nascem receberão de nós um presente trágico: uma Terra arrasada que levará também a morte prematura a eles mesmos, como levou a desaparição os seus irmãos chimpanzés em menos de um século.
Dr. Pedro A. Ynterian
Presidente, Projeto GAP Internacional