10 perguntas para Pedro Ynterian
postado em 21 dez 2010

FECHEM OS ZOOLÓGICOS!

Estudioso defende os grandes primatas e luta para que animais não sejam mais alvo de visitação pública


Por Talita Boros

O microbiologista cubano naturalizado brasileiro Pedro Ynterian, de 71 anos, é presidente do projeto internacional “Great Ape Project” (GAP), que luta pelo direito dos grandes primatas – chimpanzés, gorilas, orangotangos e bonobos. Ele fundou em Sorocaba, interior de São Paulo, um santuário que abriga 50 chimpanzés. Ynterian defende que zoológicos se tornem apenas unidades de conservação e luta para que o chimpanzé Jimmy, que vive em condições precárias no zoológico de Niterói (RJ), receba um hábeas-corpus para ser libertado.

1 – Os zoológicos brasileiros devem ser fechados? Por quê?
Não temos zoológicos de primeira linha no País, nem na América Latina. Existem alguns poucos nos Estados Unidos e Europa, mas os demais são apenas “depósitos de animais”. O assédio do público transforma milhões de animais em seres perturbados, que nada tem a ver com sua espécie original. Crianças aprendem errado ao pensar que aqueles seres representam seus iguais que vivem livres na natureza. Os animais selvagens têm direito à liberdade. O planeta pertence a todos, não só a nós, humanos. Trancafiar milhões de animais para servir de entretenimento aos humanos é antiético e imoral.

2 – Para onde iriam os animais?
Os zoológicos podem ser convertidos em unidades de conservação, sem visitação pública, que acolheriam os animais com problemas de saúde para depois serem reintegrados a natureza, dependendo de sua condição. No Brasil, como em muitos países, não existem santuários suficientes para acolher todos os animais. Mas se os zoológicos fossem convertidos em unidades de conservação, este problema urgente estaria resolvido.

3 – Os zoológicos são tão ruins como os circos?

Os zoológicos causam mais mal aos grandes primatas que os próprios circos. Os circos machucam os animais fisicamente e os zoológicos mentalmente. Os piores casos de primatas perturbados em nossos santuários são procedentes de zoológicos. O assédio do público em pequenos recintos faz pirar qualquer ser inteligente.

4 – Como é o santuário em Sorocaba (SP)?
É um local onde não existe visitação pública, onde os chimpanzés vivem em pares ou grupos, exceto aqueles que são muito agressivos e devem viver sozinhos. Os recintos têm mais de mil metros quadrados e os animais têm livre acesso a todo o local. Eles podem correr, brincar, fazer exercícios e têm três refeições por dia. Dentro do cativeiro os animais levam uma vida o mais livre possível.

5 – Quais são os animais que vivem lá?
Temos 50 chimpanzés no santuário de Sorocaba. Juntando os quatro santuários parceiros no país – Sorocaba, Ibiúna e Vargem Grande Paulista, em São Paulo e Curitiba (PR) – são 80.

6 – Como o santuário é mantido?
Cada santuário é mantido por uma família que é responsável pelo local, sem receber dinheiro do exterior ou do Governo.

7 – Como foi o início do projeto?
Tudo começou em 1999, quando compramos um bebê chimpanzé de nome Guga. Queríamos tê-lo em casa como animal de estimação. Em poucos dias percebemos que ele era quase um ser humano, com sentimentos, necessidades e que precisava viver em sociedade. Não podíamos mantê-lo em casa como um pet. Já tínhamos o criadouro conservacionista em Sorocaba e o levamos para lá quando fez 1 ano. Depois conseguimos outros dois: Samantha e Noel. Eles formaram o primeiro grupo e se tornaram a semente do santuário. Meses mais tarde, recebemos denúncias de maus-tratos de chimpanzés em circos e zoológicos que existiam no Brasil. Começamos a estudar sobre os grandes primatas, fomos ao exterior e nos envolvemos com o Projeto GAP. E então começamos a lutar pelos direitos básicos destes animais na sociedade.

8 – O que é o projeto GAP?

É um movimento mundial, fundado em 1994 nos Estados Unidos pelo filósofo Peter Singer, que luta pela defesa dos direitos básicos dos grandes primatas. É um movimento que denuncia os maus-tratos, o tráfico, a exploração e todas as ilegalidades que acontecem. O projeto tem delegações em vários países e sua central fica hoje no Brasil.

9 – Como surgiu a idéia de libertar o chimpanzé Jimmy?
Este chimpanzé é um exemplo. Existem muitos como ele no mundo: trancafiados em pequenas gaiolas, exibidos para o público e gerando lucros para os humanos. Nós defendemos que os humanos não podem ser proprietários de um grande primata, eles são livres. Podemos ser apenas seus tutores ou representantes, nada mais. Para libertar Jimmy de um cárcere que é ilegal e imoral estamos usando o recurso de habeas-corpus. Se a justiça reconhecer que Jimmy não é um objeto, mas sim um sujeito de direito, deve conceder-lhe a liberdade, para viver com os outros em um santuário. Se Jimmy for libertado, muitos animais encontrarão o caminho da libertação. O habeas-corpus de Jimmy e aquele que conseguimos há 3 anos para um chimpanzé da Bahia (o animal morreu, antes de ser resgatado) sinalizam o caminho que desejamos usar para acabar com a escravidão dos grandes primatas.

10 – O Brasil pode ser pioneiro nesse novo tipo de tratamento destes animais?
O Brasil já é pioneiro em muitas coisas em relação ao tratamento à biodiversidade e se a decisão do habeas-corpus for favorável ao Jimmy, esta será a conquista máxima que o mundo animal precisa para fazer valer seus direitos na sociedade humana.

Fonte: Jornal Folha Universal – 12/12/2010